O ConSertão foi concebido por Cláudio Lacerda, renomado cantor da música campesina e Diretor da Cantoria Produções Artísticas. O projeto consiste em concertos itinerantes ao ar livre pelo estado de São Paulo, em uma grande homenagem aos compositores da música caipira.
No ConSertão, Cláudio Lacerda e Rodrigo Zanc emprestam suas belas vozes para interpretar clássicos da música caipira. São canções que representam a identidade cultural do estado de São Paulo e de algumas regiões de estados vizinhos, que receberam forte influência cultural paulista desde a época das Bandeiras, região conhecida como Paulistânia.
Os arranjos foram produzidos pelo músico Neymar Dias, que assina a direção musical e é solista nas apresentações, empunhando um dos principais personagens da cultura do interior: a viola caipira.
Uma orquestra de câmara acompanha as apresentações, promovendo um encontro inesquecível entre a música clássica e a popular.
O projeto foi lançado em 2018 e, desde então, já passou por 9 cidades, atingindo cerca de 30 mil pessoas.
O ConSertão é uma realização do Governo do Estado de São Paulo, por meio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa, gerido pela Cantoria Produções Artísticas e produzido pela Agência NTZ.
Idealização, direção artística e voz principal
Direção musical, arranjos e viola caipira
Eu venho vindo de uma
querência distante
Sou um boiadeiro errante, que
nasceu naquela serra
O meu cavalo corre mais
que o pensamento,
ele vem no passo lento
porque ninguém
me espera
Tocando a boiada, eu vou
cortando estrada.
Toque o berrante com capricho,
Zé Vicente,
mostre para essa gente
o clarim das alterosas.
Pegue no laço, não se
entregue companheiro,
chame o cachorro
campeiro que essa rês
é perigosa!
Olhe na janela, que
linda donzela.
Sou boiadeiro, minha
gente o que é que há?
Deixe o meu gado passar vou
cumprir com
a minha sina
Lá na baixada quero ouvir
a seriema, prá lembrar de
uma pequena que eu
deixei lá em Minas
Ela é culpada, de eu
viver nas estradas.
O rio tá calmo e a boiada
vai nadando.
Veja aquele boi berrando,
Chico Bento corre lá!
Lace o mestiço, salve ele das
piranhas, tire o gado da campanha
pra viagem continuar
Com destino a Goiás,
deixei Minas Gerais
Já vai bem longe este
tempo, bem sei
Tão longe que até penso
que eu sonhei
Que lindo quando a
gente ouvia distante
O som daquele triste berrante
E um boiadeiro a gritar, êia!
E eu ficava ali na beira da estrada
Vendo caminhar a boiada até
o último boi passar
Ali passava boi, passava boiada
Tinha uma palmeira na
beira da estrada
Onde foi cravado muito coração
Mas sempre foi assim e
sempre será
O novo vem e o velho
tem que passar
O progresso cobriu a poeira
da estrada
E esse tudo que é o meu nada
Eu hoje tenho que
acatar e chorar
Mas mesmo vendo gente
e carro passando
Meus olhos estão enxergando
uma boiada passar
“Lá no alto da montanha, numa
casinha estranha toda feita de sapê
Parei uma noite à cavalo pra mór de
dois estalo que ouvi lá dentro bate
Apeei com muito jeito, ouvi um
gemido perfeito, uma voz cheia
de dor:
“Vancê, Tereza, descansa, jurei de
fazer a vingança pra mode do
meu amor”
Pela réstia da janela, por uma
luzinha amarela de um lampião
quase apagando
Vi uma cabocla no chão e um cabra
tinha na mão uma arma alumiando
Virei meu cavalo a galope, risquei de
espora e chicote, sangrei
a anca do tar
Desci a montanha abaixo
galopando meu macho, o seu
doutô eu fui chamar
Vortamo lá pra montanha naquela
casinha estranha eu e
mais seu doutô
Topemo o cabra assustado, que
chamando nóis prum lado a sua
história contou”
Senti meu sangue fervê jurei a Tereza matá
O meu alazão arriei e ela eu fui percurá.
Agora já me vinguei é esse o fim de um
amor. Essa cabocla eu matei é a minha
história, doutor.
Há tempo eu fiz um ranchinho pra
minha cabocla morá
Pois era ali nosso ninho bem
longe deste lugar.
No arto lá da montanha perto
da luz do luar
Vivi um ano feliz sem
nunca isso esperá
E muito tempo passou pensando
em ser tão feliz
Mas a Tereza, doutor,
felicidade não quis.
Pus o sonho nesse oiá, paguei
caro meu amor
Pra mór de outro caboclo meu rancho ela abandonou.
Tomara que seja verdade que exista mesmo
disco voador
Que seja um povo inteligente pra trazer pra
gente a paz e o amor
Se for pra o bem da humanidade que
felicidade esta intervenção
Aqui na Terra só se pensa em guerra
Matar o vizinho é nossa intenção
Se Deus que é o Todo-Poderoso fez esse
colosso suspenso no ar
Por que não pôde ter criado um mundo
apartado da terra e do mar
Tem gente que não acredita
E acha que é fita os mistérios profundos
Quem tem um filho pode ter dois filhos
O Senhor também pode ter outros mundos
Os homens do nosso planeta
Dão a impressão que já não tem mais crença
Em vez de fabricar remédio pra curar o
tédio e outras doenças
Inventam armas de Hidrogênio usam o
seu gênio fabricando bomba
Mas não se esqueçam que por mais
que cresçam
Que perante Deus qualquer gigante tomba
O nosso mundo é um espelho que reflete
sempre a realidade
Quem planta vinha colhe uva
E quem planta chuva colhe tempestade
No tempo em que Jesus vivia Ele disse um
dia e não foi a esmo
Que nesse mundo onde a maldade infesta
Tudo que não presta morre por si mesmo
Como é bonito estender-se no verão
As cortinas do sertão, nas varandas
da manhã
Deixar entrar pedaços de madrugada
E sobre a colcha azulada dorme calma
a lua irmã
Cheiro de relva traz do campo a brisa
mansa que nos faz sentir criança
a embalar milhões de ninhos
A relva esconde as florzinhas orvalhadas
Quase sempre abandonadas nas
encostas dos caminhos
A juriti madrugadeira da floresta
Com seu canto abre a festa revoando
toda a selva. O rio manso caudaloso se
agita parecendo achar bonita
a terra cheia de relva.
O sol vermelho se esquenta e aparece,
O vergel todo agradece pelos ninhos
que abrigou. Botões de ouro se
desprendem de seus galhos, são as gotas
de orvalho de uma noite que passou
De que me adianta viver na cidade
Se a felicidade não me acompanhar
Adeus, paulistinha do meu coração
Lá pro meu sertão eu quero voltar
Ver a madrugada, quando a passarada
Fazendo alvorada começa a cantar
Com satisfação, arreio o burrão
Cortando o estradão saio a galopar
E vou escutando o gado berrando
O sabiá cantando no jequitibá
Por nossa senhora, meu sertão querido
Vivo arrependido por ter te deixado
Nesta nova vida aqui na cidade
De tanta saudade, eu tenho chorado
Aqui tem alguém, diz que me quer bem
Mas não me convém, eu tenho pensado
Eu fico com pena, mas essa morena
Não sabe o sistema que eu fui criado
Tô aqui cantando, de longe escutando
Alguém está chorando com
o rádio ligado
Que saudade imensa do campo
e do mato
Do manso regato que corta
as campinas
Aos domingos ia passear de canoa
Nas lindas lagoas de águas cristalinas
Que doce lembrança
daquelas festanças
Onde tinham danças e lindas meninas
Eu vivo hoje em dia sem ter alegria
O mundo judia, mas também ensina
Estou contrariado, mas não derrotado
Eu sou bem guiado pelas mãos divinas
Pra minha mãezinha já telegrafei
E já me cansei de tanto sofrer
Nesta madrugada estarei de partida
Pra terra querida, que me viu nascer
Já ouço sonhando o galo cantando
O inhambu piando no escurecer
A lua prateada clareando a estrada
A relva molhada desde o anoitecer
Eu preciso ir pra ver tudo ali
Foi lá que nasci, lá quero morrer
Eu não troco meu ranchinho
amarradinho de cipó
Pruma casa na cidade nem
que seja bangaló.
Eu moro lá no deserto,
sem vizinho eu vivo só
Só me alegra é quando pia
lá praqueles cafundó
É o inhambu-xitã e o xororó
É o inhambu-xitã e o xororó
Quando rompe a madrugada,
canta o galo carijó
Pia triste a coruja, na cumieira
do paiol
Quando vem o entardecer,
pia triste o jaó
Só me alegra quando pia
lá praqueles cafundó
Não me dou com a terra roxa,
com a seca larga o pó
Na baixada do areião, eu sinto
um prazer maior
Ver a rolinha no andar,
no areião faz caracó
Só me alegra quando pia
lá praqueles cafundó
Eu faço minha caçada,
antes de sair o sol
Espingarda de cartucho,
patrona de tiracó,
Tenho buzina e cachorro,
pra fazer forrobodó
Só me alegra quando pia
lá praqueles cafundó
Quando eu sei de uma noticia,
que outro canta melhor
Meu coração dá um balanço,
fica meio banzaró
Suspiro sai do meu peito,
que nem bala joveló
Só me alegra quando pia lá
praqueles cafundó
Fiz uma casinha branca lá no pé da serra
Pra nós dois morar
Fica perto da barranca do rio Paraná
A paisagem é uma beleza
Eu tenho certeza, você vai gostar
Fiz uma capela, bem do lado da janela
Pra nós dois rezar
Quando for dia de festa
Você veste o seu vestido de algodão
Quebro o meu chapéu na testa
Para arrematar as coisas do leilão
Satisfeito vou levar
Você de braço dado atrás da procissão
Vou com meu terno riscado
Uma flor do lado e meu chapéu na mão
Deixa a cidade formosa morena
Linda pequena, e volta ao sertão
Beber a água da fonte que canta
Que se levanta do meio do chão
Se tu nasceste cabocla cheirosa
Cheirando a rosa do peito
da terra
Volta prá vida serena da roça
Daquela palhoça, do alto da serra
E a fonte a cantá, chuá, chuá
E as água a corrê, chuê, chuê
Parece que alguém, que cheio
de mágoa
Deixaste quem há de dizer
a saudade
No meio das águas,
rolando também
A lua branca de luz prateada
Faz a jornada no alto dos céus
Como se fosse uma
sombra altaneira
Da cachoeira, fazendo escarcéu
Quando esta luz lá na
altura distante
Loira ofegante no poente a cair
Dá-me essa trova, que e
o pinho descerra
Que eu volto pra serra, que
eu quero partir
Nestes versos tão singelos minha
bela meu amor
Pra vancê quero contar o meu sofrer
e a minha dor
Eu sou como o sabiá que quando
canta é só tristeza
Desde o galho onde ele está
Nesta viola eu canto e gemo de verdade
Cada toada representa uma saudade.
Eu nasci naquela serra num ranchinho
à beira-chão
Todo cheio de buraco onde a lua faz clarão
Quando chega a madrugada lá no
mato a passarada
Principia o barulhão
Lá no mato tudo é triste desde
o jeito de falar
Quando riscam na viola dá
vontade de chorar
E o choro que vai caindo devagar
vai se sumindo
Como as águas vão pro mar
Eu não caio do cavalo nem do
burro e nem do gaio
Ganho dinheiro cantando a viola
é meu trabáio
No lugar onde tem seca, eu de
sede lá não caio
Levanto de madrugada e
bebo pingo de orvalho
Chora viola
Não como gato por lebre, não
compro cipó por laço
Eu não durmo de botina não
dou beijo sem abraço
Fiz um ponto lá na mata caprichei
e dei um nó
Meus amigos eu ajudo, inimigo
eu tenho dó
Chora viola
A lua é dona da noite o sol é
dono do dia
Admiro as mulheres que gostam
de cantoria
Mato a onça e bebo o sangue,
furo a terra e tiro o ouro
Quem sabe aguentar saudade
não aguenta desaforo
Chora viola
Eu ando de pé no chão piso por
cima da brasa
Quem não gosta de viola que não
ponha o pé lá em casa
A viola tá tinindo, o cantador tá
de pé. Quem não gosta de viola,
brasileiro bão não é
Chora viola
É de sonho e de pó, o destino de um só
Feito eu perdido em pensamentos
Sobre o meu cavalo
É de laço e de nó, de gibeira o jiló
Dessa vida cumprida a sol
Sou caipira, Pirapora nossa
Senhora de Aparecida
Ilumina a mina escura e funda
O trem da minha vida
O meu pai foi peão, minha mãe, solidão
Meus irmãos perderam-se na vida
A custa de aventuras
Descasei, joguei, investi, desisti
Se há sorte eu não sei, nunca vi
Me disseram, porém, que eu viesse aqui
Pra pedir em romaria e prece
Paz nos desaventos
Como eu não sei rezar, só queria mostrar
Meu olhar, meu olhar, meu olhar
Corre um boato aqui donde eu moro
Que as mágoas que eu choro são mal ponteadas
Que no capim mascado do meu boi
A baba sempre foi santa e purifi cada
Diz que eu rumino desde menininho
Fraco e mirradinho a ração da estrada
Vou mastigando o mundo e ruminando
E assim vou tocando essa vida marvada
É que a viola fala alto no meu peito humano
E toda moda é um remédio pros meus desengano
É que a viola fala alto no meu peito, humano
E toda mágoa é um mistério fora deste plano
Pra todo aquele que só fala que eu não sei viver
Chega lá em casa pruma visitinha
Que no verso ou no reverso da vida inteirinha
Há de encontrar-me num cateretê
Tem um ditado tido como certo
Que cavalo esperto não espanta a boiada
E quem refuga o mundo resmungando
Passará berrando essa vida marvada
Cumpadi meu que envelheceu cantando
Diz que ruminando dá pra ser feliz
Por isso eu vagueio ponteando
E assim procurando minha fl or-de-lis
De Bebedouro – SP, com apenas 16 anos de idade, em parceria com Serrinha, compôs “Chitãozinho e Xororó”, sua primeira música e maior sucesso e a obra escolhida para homenageá-lo no ConSertão. Além de compositor, também atuou como radialista em várias emissoras de São Paulo, além de produzir programas televisivos para Geraldo Meirelles, um dos pioneiros em mostrar a música caipira na TV. Passou a residir em Mairiporã/SP, no final da década de 30, tendo inclusive composto o Hino Municipal da cidade, a qual se orgulha de ter sido a terra querida e amada pelo compositor. Além de “Chitãozinho e Xororó”, Athos Campos também compôs outras obras-primas, entre elas, “Sinhazinha”, “Bate na Viola”, “Samba de Roda”, “Viola Sem Defeito”, entre outras. Ele foi um dos artistas mais importantes do nosso país e sempre defendeu as raízes culturais do povo. Através de seus programas de rádio e TV, costumava sempre denunciar o mercantilismo que já começava a deturpar a música caipira raiz.
Pascoal Zanetti Toradelli ou simplesmente Belmonte é de Barra Bonita – SP. Aos 16 anos, já procurava ser um grande cantor. Com 18 anos, conheceu o cantor Belmiro, com quem iria fazer uma dupla, gravando seu primeiro disco: “Aquela Mulher”. Em 1966, Belmonte conheceu Amaraí e gravou seu disco de maior sucesso: “Saudade da Minha Terra”, cuja música homônima composta em parceria com Goiá está no ConSertão. Após um breve término, a dupla com Amaraí foi retomada. Belmonte havia composto a música “Cavalinho de Pau” e Amaraí havia composto “Te Amarei Toda Vida”, e, com suas vozes inigualáveis, as duas canções haviam se tornado dois grandes sucessos.
NOME | INSTRUMENTO |
Fernando Ortiz de Villate | Maestro |
Rafael Pires | Violino |
Raldnei Gonçalves | Violino |
Jônatas Ariel | Violino |
José Carlos Rodrigues | Violino |
Christa de Andrade | Violino |
Daniel Saito | Violino |
Felipe Natanael | Violino |
Marcela Frigato | Violino |
Guilherme Ramos | Violino |
Wallacy Oliveira | Violino |
Marcos Ferreira | Viola |
Jéssica Paganuci | Viola |
Felipe Zamian | Viola |
Renata Ortiz de Villate | Violoncelo |
Silvana Teixeira | Violoncelo |
Marcelo Pessoa | Contrabaixo |
Vitor Germano | Oboé |
Gabriela Gaspar | Flauta |
Franklin Ramos | Clarinete |
Pedro Valadares | Fagote |
Renan Bertinotti | Trompa |